FORMAÇÃO CONTINUADA E PANDEMIA: Lições do passado e direcionamentos para o futuro.

A formação de professores está lançada num ideal de fazer e refazer permanente. Será sempre desafiada e (re)definida pelo contexto ao qual está inserida. E nesse fluxo permanente de criação, transformação da realidade, poderíamos afirmar que nos últimos três anos, nenhum contexto foi tão desafiador quanto o da pandemia, devido ao alto impacto ocasionado na educação. Nos tempos de Covid-19, os professores foram confrontados com a necessidade de se adaptarem a novos arranjos para lidar com a educação que passou a ser mediada, principalmente, pelas tecnologias digitais. Esse contexto trouxe diferentes sentidos de espaço e interação, impelindo os professores, em pleno exercício de suas funções, a reorganização de seu trabalho, de suas práticas pedagógicas, ou até mesmo a reinvenção destas, lançando assim, forte ênfase na formação continuada docente.

Assim, as práticas docentes na pandemia, deixaram muitas lições para a formação de professores. Esse período não representou apenas um momento desafiador na educação, mas deixou marcas de aprendizagens e desaprendizagens nos professores e suas formações.

Então o que aprendemos com essa experiência? Que herança esse passado tão próximo deixou para a formação continuada de professores? 

Entre as diversas questões que perpassaram esse cenário, ressaltaremos algumas respostas com base em evidências de pesquisas realizadas sobre o ensino remoto no contexto pandêmico, sobretudo, no que diz respeito às escolas públicas do Brasil. 

Podemos começar destacando que as formações continuadas foram uma forma de direcionamento para o trabalho do professor com vistas a contribuir para (re)significação de saberes pedagógicos necessários a auxiliá-los no cenário apresentado pelo distanciamento social dos anos de 2020 e 2021. Os processos formativos desse período empenharam-se em colocar os professores em condições de dialogarem com as circunstâncias inusitadas e desafiadoras desse contexto. 

O cataclismo da pandemia acelerou a articulação entre o saber tecnológico e os saberes docentes, demonstrando que as práticas pedagógicas docentes não podem mais desconsiderar o atual contexto da cibercultura. Assim, é necessário que haja mais investimentos em recursos tecnológicos e conectividades para professores, alunos e escolas.

No entanto, embora se faça importante reconhecer as muitas experiências formativas virtuais exitosas que ajudaram os professores em suas práticas, sobretudo, para o manejo das tecnologias como mediadoras de processos de ensino, nem sempre essas formações corresponderam a realidade de trabalho e ensino imposta para os professores. Infelizmente as formações ainda persistem em práticas descontextualizadas e distantes da realidade da docência.

Na pandemia também compreendemos que não se pode separar as formações das condições de trabalho dos professores. No ensino remoto emergencial ficou evidente a intensificação da jornada de trabalho dos professores, a inadequação dos tempos/espaços físicos para o exercício do trabalho docente, somados também a inadequação e a fragilidade do acesso aos recursos digitais. Essa extensão da jornada de trabalho aditada a precarização do trabalho, reverberaram na formação continuada dos professores. Se o objetivo das formações era potencializar o processo de ensino-aprendizagem no modelo remoto, como ficou a efetivação dessa intencionalidade em uma conjuntura de trabalho vulnerável? Na verdade, ficou comprometida. Segundo Saviani (2009), condições precárias de trabalho dificultam uma boa formação e mesmo com uma boa formação, neutralizam a ação dos professores. Portanto, que no pós-pandemia haja mais viabilização de condições de trabalho possibilitando que as formações sejam mais efetivas e frutíferas para o exercício da profissão docente.

Na contradição da necessidade do distanciamento social, os professores romperam com o isolamento e buscaram criar pontes de fortalecimento no trabalho colaborativo através de diferentes espaços de formação (formais e informais) criando assim, novas alternativas para melhorar a sua prática através da comunicação e partilha de experiência entre seus pares. 

Essas aprendizagens, são algumas das lições da repercussão dos contornos formativos dos professores na pandemia, mas algumas delas nos servem como desaprendizagens para se pensar um outro olhar em direção a novos rumos para a formação continuada no atual contexto pós-pandêmico. Nesse caso, o que nos dizem os estudos sobre as rotas que ficaram abertas para se trilhar novos caminhos na formação dos professores?

A formação continuada deve ouvir mais os professores, levar em consideração o que têm a dizer sobre os modelos de formação, o que os motiva na sua autoformação, quais são suas necessidades, valorizar e incluir os seus saberes como um elemento de formação e transformação das práticas educativas. Mas para que isso ocorra, é necessário que ocorra mudanças nas relações de poder dos processos formativos, é preciso descentralizá-lo.

Devemos lutar por uma formação continuada, conforme explica Francisco Imbernón, que provoque desenvolvimento pessoal, profissional e institucional, e não unicamente profissional, uma vez que melhorará as pessoas, o funcionamento dos sistemas educativos, sua gestão, organização, avaliação e comunicação, e, consequentemente, permitirá intervir ao máximo no currículo e em todos os processos educativos e na realidade 

Deve-se considerar que a relação de professor para professor é uma ação formativa, haja vista que, o diálogo, a troca de experiência são iniciativas que abrem um leque de possibilidades para a socialização de diferentes práticas de ensino e possibilita que os professores assumam o seu protagonismo, compartilhem abertamente suas dificuldades, anseios, a complexidade e condições do seu trabalho. Portanto, os processos formativos não podem ignorar o poder dessa ação, pelo contrário deve servir como um espaço que a potencialize.

A pandemia também destacou a importância das “comunidades de trabalho” que baseada na colaboração e cooperação não só entre professores, mas, por diversos profissionais da educação podem potencializar o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. De acordo com Antonio Novóa (2022), a formação continuada é um dos espaços mais importantes para promover esta realidade partilhada. Esse é um potencial que deve daqui para frente ser cada vez mais explorado e fomentado

Seguir por estes caminho de novas perspectivas é antes tudo entender que a Formação continuada é um processo complexo, cheio de atravessamentos previsíveis e também inesperados, portanto, isso nos leva a refletir que necessitamos de uma nova formação, que seja fluída, anexada com as rápidas transformações sociais, mas que se dê por um processo de pertença, de conexão onde os professores se sintam realmente vinculados a ela, compromissados em buscar diferentes forma de aprender e inovar.

É nessa dialética, de aprender e desaprender que se move a formação dos professores segundo afirma o estudioso da área Francisco Imbernón. Que essas lições, de um passado ainda tão vivo e intimidante, aliadas as expectativas por mudanças, possibilitem novos percursos para os professores e sua formação resultando assim, em mais qualidade para a educação.

E para você? Que aprendizagens e desaprendizagens a pandemia deixou em sua formação?

Deixe um comentário e vamos dialogando!

Para agregar mais argumentos e reflexões sobre a formação de professores no contexto da pandemia e no pós-pandemia, sugerimos a seguir o vídeo de Antonio Nóvoa sobre como será a formação de professores no pós-pandemia.


Acesse também o link do artigo “Os professoresdepois da pandemia”, de Antonio Nóvoa e Yara Cristina Alvim.

REFERÊNCIAS:

IMBERNÓN, Francisco. Em esa dialética... aprender y desaprender s muelve la formación del professorado. [entrevista concedida a ubp]. Misceláneas Educativas. Argentina, 25 mar.2021.

NÓVOA, António; ALVIM, Yara. Escola e professores: proteger, transformar, valorizar. Bahia, EGBA, 2022.

SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, v. 14, n. 40, p. 143-155, 2009.



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Sobre a autora

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4 Comentários:

  1. Parabéns às autoras. Um excelente espaço de aprendizagem.

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  2. Foram muitos os desafios durante a pandemia, mas mesmo diante desse estado de calamidade foi possível trazer inovações, sobretudo, em relação a área tecnológica.

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  3. Além da questão tecnológica e da importância da ciência, a pandemia nos ensinou que é preciso estar preparado para as mudanças, que é fundamental cuidar da saúde mental e ter mais empatia com o outro.
    No que diz respeito a educação e formação de professores, é cada vez mais importante que os processos levem em consideração o diálogo e o trabalho por grupos colaborativos.

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